
Teleterapia: Uma opção válida na reabilitação da Afasia após AVC
No Instituto Português da Afasia reconhecemos que a reabilitação da comunicação e da linguagem após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um dos maiores desafios enfrentados por pessoas com afasia em Portugal. A terapia tradicional desempenha um papel crucial neste processo, mas limitações geográficas, custos associados e barreiras físicas podem dificultar o acesso a sessões presenciais. É neste contexto que a teleterapia surge como uma solução inovadora e eficaz, facilitando o acesso à terapia e promovendo a continuidade dos cuidados.
A teleterapia, ou telereabilitação ou teleprática, utiliza tecnologias digitais (como computadores, tablets e smartphones) para realizar sessões de terapia à distância. Esta modalidade tem mostrado resultados positivos no apoio a pessoas com afasia, oferecendo flexibilidade e personalização no processo de reabilitação.
Uma revisão sistemática recente (Cetinkaya et al., 2023) destacou os benefícios e os desafios da telereabilitação para pessoas com afasia, enquanto estudos como os de Hall et al. (2023) e Tibus et al. (2024) trouxeram novas perspetivas sobre a implementação desta modalidade terapêutica e os fatores que influenciam o seu sucesso.
A teleterapia na afasia tem revelado importantes descobertas que destacam o seu potencial como alternativa viável às sessões presenciais. Um dos principais benefícios é o maior acesso e flexibilidade que proporciona aos utentes. Ao eliminar barreiras geográficas e reduzir custos relacionados com deslocações, a teleterapia permite que mais pessoas tenham acesso à intervenção terapêutica. Segundo Cetinkaya et al. (2023), esta abordagem é considerada viável e aceitável, promovendo melhorias significativas na comunicação funcional, qualidade de vida e autoestima dos indivíduos com afasia.
Outro aspeto relevante é a eficácia da teleterapia, que tem demonstrado resultados comparáveis aos das sessões presenciais. Estudos realizados por Hall et al. (2023) evidenciam que tanto a avaliação como a intervenção em afasia podem ser realizadas remotamente com a mesma qualidade e eficácia que os encontros presenciais. As avaliações feitas à distância apresentaram resultados equivalentes e as intervenções conduzidas em formato online mostraram melhorias expressivas na comunicação dos participantes.
Contudo, a implementação da teleterapia também enfrenta alguns desafios. Entre eles, destacam-se os problemas técnicos, como falhas de conexão e baixa qualidade de som ou imagem, que podem interferir na eficácia das sessões. Além disso, existe uma desigualdade no acesso à tecnologia, especialmente entre pessoas idosas ou em contextos socioeconómicos desfavorecidos, o que limita o alcance da teleterapia. Outro obstáculo refere-se às limitações de usabilidade, já que algumas pessoas com afasia podem ter dificuldade em utilizar plataformas digitais devido às suas limitações de comunicação. Nestes casos, a presença de um familiar ou cuidador é frequentemente necessária para prestar apoio técnico, o que nem sempre é possível ou viável.
Tibus et al. (2024) reforçam a importância de considerar fatores humanos e tecnológicos na implementação da teleterapia, sobretudo em populações mais vulneráveis, como idosos e pessoas com défices cognitivos associados à afasia. Assim, embora a teleterapia ofereça oportunidades valiosas para expandir o acesso aos serviços de terapia da fala, é fundamental adotar estratégias que minimizem as barreiras tecnológicas e promovam a inclusão de todos os utentes.
Recomendações para a implementação de Teleterapia
Avaliação prévia
Antes de iniciar a teleterapia, é fundamental avaliar se a pessoa tem acesso aos recursos necessários (internet estável, equipamentos adequados) e se possui as competências básicas para utilizar a tecnologia, ou se, por outro lado, tem quem a ajude no acesso à tecnologia. Tibus et al. (2024) desenvolveram o PTQ (Participant Telepractice Questionnaire), um instrumento que avalia a prontidão dos participantes para sessões online, considerando fatores como literacia digital, acessibilidade e necessidades de adaptação.
Adaptação dos materiais e estratégias
Os materiais utilizados nas sessões de teleterapia devem ser ajustados às necessidades individuais da pessoa com afasia. Isso inclui:
- Utilização de linguagem simplificada e recursos visuais.
- Adaptação do ritmo das sessões.
- Integração de ferramentas interativas para manter o interesse e o envolvimento.
Apoio aos cuidadores e à rede de suporte
O envolvimento de familiares e cuidadores pode facilitar a adesão à teleterapia, especialmente em casos de afasia severa. Fornecer formação básica sobre o uso das plataformas digitais e orientar os cuidadores sobre como apoiar a pessoa durante as sessões pode ser determinante para o sucesso da terapia.
Monitorização e feedback contínuo
Acompanhar a evolução do paciente e recolher feedback sobre a experiência com a telereabilitação são práticas essenciais. Ajustes podem ser feitos ao longo do processo para melhorar a eficácia das sessões e adaptar a terapia às necessidades do paciente.
Oportunidades futuras
A teleterapia na afasia apresenta desafios importantes, mas também abre portas para inúmeras oportunidades futuras que podem otimizar a intervenção e ampliar o seu alcance. A criação de plataformas específicas para a teleterapia na afasia surge como uma solução promissora, permitindo o desenvolvimento de interfaces intuitivas e adaptadas às necessidades desta população. O desenvolvimento de aplicações móveis focadas em exercícios interativos pode também complementar as sessões de terapia, oferecendo recursos adicionais para o treino da comunicação em casa. Tecnologias emergentes, como a realidade virtual e a inteligência artificial, apresentam um enorme potencial para enriquecer a experiência terapêutica, criando ambientes imersivos e personalizados que podem aumentar o envolvimento dos utentes. Além disso, a integração de grupos de apoio online oferece novas possibilidades de socialização entre pessoas com afasia, fortalecendo redes de apoio e contribuindo para o bem-estar emocional dos participantes. No IPA, já oferecemos esta possibilidade conectando pessoas com afasia residentes em diferentes territórios do país e ilhas.
Conclusão
A teleterapia representa uma revolução no campo da reabilitação da afasia, ampliando o acesso a cuidados especializados e oferecendo alternativas flexíveis para pessoas que enfrentam barreiras logísticas. No entanto, é necessário continuar a investir em investigação para otimizar as práticas atuais, padronizar protocolos e garantir que este tipo de resposta é acessível a mais pessoas com afasia, independentemente das suas circunstâncias.
No IPA, continuamos empenhados em acompanhar os avanços científicos e em adaptar as melhores práticas às necessidades das pessoas com afasia. Acreditamos que a teleterapia não é apenas uma solução prática — é uma ferramenta que promove inclusão, autonomia e qualidade de vida. Fale connosco se quiser ter acesso a este tipo de acompanhamento!
Referências Bibliográficas
Cetinkaya, B., Twomey, K., Bullard, B., EL Kouaissi, S., & Conroy, P. (2023). Telerehabilitation of aphasia: A systematic review of the literature. Aphasiology, 38(7), 1271–1302. https://doi.org/10.1080/02687038.2023.2274621
Hall, N., Boisvert, M., & Steele, R. (2023). Telepractice in the assessment and treatment of individuals with aphasia: A systematic review. Journal of Communication Disorders.
Tibus, E. O., Weatherill, M., & Rodriguez, A. D. (2024). Optimizing telepractice selection and implementation for persons with aphasia. International Journal of Telerehabilitation, 16(1).
American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). (n.d.). Telepractice overview. www.asha.org
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- by IPA
- on 21 de Fevereiro, 2025
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